Era uma sexta-feira de inverno.
Tinha que ser no inverno! - pensou ela.
Além de não suportar o frio, parecia que todas as suas desgraças pessoais tinham alguma ligação sinistra com o clima.
A cabeça girava e doía. Os pensamentos se embaralhavam numa compaixão por si mesma misturados ao arrependimento - cruelmente dolorido- de concluir que poderia ter evitado aquele ferimento mortal.
Uma palavra não dita. Um segundo de desinteresse. Um único acontecimento que poderia anular toda a sua curiosidade em saber o que havia do lado de lá.
Andou quilômetros se esgueirando do destino, das pessoas e, ao perceber o quanto estava longe, não havia mais como voltar.
Imaginava-se num futuro próximo. Algum governo inventaria a Pílula do Esquecimento Programado e ela, então, não mais se recordaria daquele episódio lamentável de sua história.
O enredo até parecia ser outro desta vez. Não imaginava o quão depressa o tempo passaria. E, como havia acontecido algumas vezes, quando ela não mais desejasse aquilo, todos os sonhos se realizariam.
Tarde demais. Sempre parecia ser tarde demais. E num belo dia ela diria a si mesma que não tinha tanta importância.
Realmente não existe amor em São Paulo. E em lugar algum.