Luau Drey

Luau Drey
...

sexta-feira, 27 de maio de 2011

O livro fala. A alma responde.

Há quase 1 ano abandonei meu blog... Fui tomada por um vácuo de boas ideias que me persegue desde a juventude. Por mais que eu tente, aquele momento criativo se nega a aparecer. Isso me angustia, me entristece, me faz pensar que, na verdade, eu não sei escrever bem. Nem mal. Simplesmente não sei mais escrever como escrevia na adolescência.

Comecei e ler cedo. Me recordo da estante de cerejeira na sala, com títulos diversos; de Machado de Assis a Harold Robins. Ainda morávamos em SP, era década de 70, mas a insegurança da metrópole já era uma preocupação e não me restavam muitas opções. Escrever veio logo depois, como se fosse uma consequência da prisão que a violência nos impõe. Aprendi ainda criança o poder das palavras. A transformação que um livro pode fazer na sua vida. Anne Frank era uma personagem recorrente da minha teoria sobre leitura e literatura.. Escondida por anos da perseguição nazista, escreveu um diário que se tornou um dos livros mais importantes do século XX. Eu o li com 12 anos e foi a primeira leitura que me emocionou por ser real e pela sensibilidade e poder que Anne teve de me transportar para o seu mundo triste e incerto. Quanto mais você lê mais quer ler e quanto mais você escreve, mais terá criatividade e facilidade para escrever.

Eu viajava nas estórias (sim, naquela época História era a de verdade o que realmente havia acontecido, por exemplo História do Brasil - eu sei que essa também não é de verdade, mas isso é assunto para outro post! Sonhava ser uma das mocinhas de Sheldon: fortes, impetuosas, lindas e ao mesmo tempo frágeis, como toda mocinha deve ser.

Daí veio o 2º grau e eu tive que ler os autores brasileiros e alguns portugueses. Nesse momento eu soube que eu gostava MESMO de ler. Qualquer coisa. Me pegava por longos minutos lendo a etiqueta da mostarda e sonhando com campos franceses, cheios de "flores de mostarda"(what??) e o quanto eu gostaria de conhecer Paris; e como eu poderia viver uma linda Estória de amor com um francês... Me apaixonei por Dom Casmurro, quis ser Capitu... Luiz de Camões insistia para eu gostar de poesia.

Foi nessa época que eu comecei a escrever poemas, cartas de amor, contos de terror, uma biografia maluca e fantasiosa de mim mesma e tudo que eu gostaria de falar, mas não tinha coragem. Então, escrevia. Foi aí que comecei a ser bem melhor escrevendo do que falando, pintando, andando, desenhando e respirando... Talvez tenha sido neste momento que eu desaprendi a me expressar de outra maneira.

Na faculdade começam a te direcionar. Você lê o que precisa ser lido. Algumas coisas você gosta, outras não. Outras você julga (mal), outras não. Algumas você analisa, outras... sempre! Na faculdade de Jornalismo, eu virei crítica. Todas as matérias, livros, artigos e textos eu me sentia apta o bastante para desenvolver minhas impressões e opinar como uma profunda estudiosa do assunto. Jornalistas são chatos. Estudantes de jornalismo são mais. Estão aprendendo a ser chatos.

Talvez tenha sido na faculdade que eu parei de escrever com o coração. Embora, eu lesse muito mais e escrevesse na mesma proporção, comecei a fazer isso com técnica. A magia se perdeu. Eu não escrevia mais com o meu eu e começou a se tornar muito mais penoso e difícil criar, levar um projeto adiante, agir por prazer, não por obrigação.

Com 18 anos escrevi um livro que nunca mostrei a ninguém. Um romance, uma ficção meio real do meu 1º amor. Ficou lindo, mas parecia muito com esses exemplares de banca de jornal. E a vida não é isso? Um exemplar romântico vendido em banca de jornal? A minha era.

O 1º amor nunca leu uma linha sequer. Acho que já estava cansado de tantas cartas românticas que eu entregava a ele, pessoalmente... E enquanto ele li minhas letras escritas com lágrimas, eu o olhava atentamente. Não para resolver a pendência emocional, mas sim para saber se as minhas palavras o tinham impactado da forma que eu queria. Na minha inocente juventude eu acreditava que o livro seria um best seller e ele se arrependeria de não ter lido antes que todo mundo. E com o sucesso de vendas do meu livro eu seria milionária, moraria em Mônaco e o 1º amor não teria crédito nenhum por isso. Ele ficaria aqui no Brasil e anos depois se arrependeria amargamente por não ter me amado.

Hoje, resolvi tentar de novo. Arrumar as ideias, deixá-las fluir, voarem pela minha consciência, ficarem palpáveis. Eu preciso recomeçar. Por que eu deveria abandonar meu sonho de ser uma grande escritora? Isabel Alende começou a escrever depois dos 40 anos... Nunca é tarde. Para sonhar, escrever, aprender e realizar. Eu ainda amo as palavras e tenho certeza que elas são eternas.