Luau Drey

Luau Drey
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sexta-feira, 27 de agosto de 2010

PESSOAS INPIRADORAS & PESSOAS BRILHANTES


Conversava com uma amiga sobre a diferença entre pessoas brilhantes e inspiradoras... Cheguei a conclusão que as pessoas inspiradoras na minha vida, até então, haviam sido meus professores. Marcelo Ortiz: profº de Ciências e Saúde da 6ª série. Já na década de 80 ele ensinava Meio Ambiente, Sustentabilidade e preservação da natureza. Era, sem dúvida, um visionário.
Márcia Heloisa: profª de Sociologia e Filosofia do Magistério. Graças a ela eu li Dostoiévski, Nietzche, Thomas Morus e outros pensadores muito interessantes.
Dirceu, meu professor de História do Jornalismo, na Universidade. Ele me fazia acreditar na incrível força da Mídia e que tínhamos o super poder de transformação do mundo. Um sonhador, mas eu também era; então talvez me deixasse enganar.
Depois, listei as pessoas brilhantes que tive o prazer de conhecer: João Armentano (arquiteto), Saramago (em sua passagem por SP em 2008 - um dos maiores acontecimentos da minha vida), Milhen Cortaz (ator) e outras pessoas tão relevantes, mas não tão famosas quanto essas. Percebe que os brilhantes parecem mais inatingíveis?
De repente, por obra do destino, na mesma semana dessa conversa um tanto maluca conheci alguém muito inspirador: João Pepeu, o pedreiro leitor.
A empresa que eu trabalho está passando por uma cansativa reforma. São mais de 15 pedreiros para lá e para cá o dia todo. E nesse vai e vem, numa tarde logo depois do almoço, João se sentou ao meu lado no jardim com um livro de Agatha Christie nas mãos...
Até estiquei meu olho míope para me certificar que não era revistinha de sacanagem, com capa de autor famoso. Mas realmente era O Inimigo Secreto (1922).
Não queria interrompê-lo. Detesto que me interrompam quando estou lendo! Mas não resisti e engatei uma conversa. João é pedreiro desde os 14 anos. Hoje tem 49. É casado, tem filhos e netos. Só estudou até a 4ª série do Ensino Fundamental, mas tem um vocabulário surpreendente.
Me contou que empresta livros da biblioteca da escola do neto, pois "livros são muito caros!" Já leu mais de 200 publicações (nas suas contas) e não gosta de livros de auto ajuda e alguns autores que não vem ao caso, pois não escrevo aqui para fazer anti propaganda de ninguém. João também me disse que até gostava de Agatha Christie, mas achava muito "fantasisoso" (palavra dele!). Seu autor preferido, me disse baixinho, quase sussurrando: era Sidney Sheldon. Eu sorri.
Adoro Sidney Sheldon. Graças a Um Estranho no Espelho que me apaixonei por literatura. Com 9 anos eu já havia lido A Outra Face, O Outro Lado da Meia Noite, A Herdeira e a Ira dos Anjos - minha mãe também adorava Sheldon. Quando João me confessou isso quase como um segredo, me dei conta que talvez fosse vergonha para um homem daqueles gostar de romances. E percebi que eu também não falava da minha identificação com Sheldon para ninguém. Que bobagem, não?
Eu e João ficamos conversando por mais meia hora sobre Isabel Allende, Gabriel Garcia Marquez, Machado de Assis e tantos outros que eu queria ter ficado naquela conversinha o dia inteiro.
O homem ficou famoso na empresa. Todos comentavam sobre ele e, às vezes, eu escuto da minha sala os pedreiros gritando: - João! Pára de ler e vem trabalhar!!
Hoje, eu cheguei na empresa e João estava sentado na caçamba de entulho, lendo jornal.
Perguntei: - Lendo o que, João ?
- As páginas de política, né moça? A eleição está chegando e temos que votar direito. Depois que estão lá, daí é tarde pra reclamar!
Que vontade me deu naquele momento de mostrar João Pepeu ao mundo! Pensei nele como tiozinho propaganda da Bienal do Livro... Sonhei por ele, com uma quase compaixão, de tanto admirar um homem assim. Eu tinha o grande privilégio de conhecê-lo e me inspirar.
Uma inspiração súbita de escrever mais e então inspirar pessoas a lerem mais também. Porque eu também tenho que ler muito para escrever na mesma proporção.
Um livro tem o incrível poder de abrir horizontes, transpor fronteiras, de igualar, de exercitar o pensamento . Um livro liberta, transporta, seduz.
Sempre que me perguntam qual é o segredo para escrever bem, eu sempre dou a mesma resposta: leia! E se alguém, como João Pepeu, me fizesse esta pergunta, eu diria: sonhe!